30 de abril de 2013

Quitutes da terra


Escrever um blog acerca de um determinado país, de uma cultura, implica obrigatoriamente criar uma secção acerca da gastronomia local.

Muito do que são os povos surge, na minha opinião, espelhado na sua comida e o reflexo daquilo de poderíamos chamar de "angolan way", aparece claramente traduzido na cor, textura, sabor e conforto dos seus pratos.

Dos vários pratos angolanos - que teremos oportunidade de abordar – um dos mais emblemáticos é a Moamba (de Dem-dem) de Galinha.

Este é um prato geralmente confecionado ao fim-de-semana, para ser consumido entre amigos e familiares, acompanhado de um fresquíssima Cuca! (Cerveja nacional)

E por ter sido fim-de-semana, aqui fica, passo a passo, imagem a imagem, a receita da deliciosa Moamba (de Dem-dem) de Galinha:


Ingredientes (6/8 pessoas):

2 Frangos ou 2 galinhas rijas (o mais típico)
1 cebola grande
1 cabeça de alho + 2 dentes de alho
1 chávena de café de vinagre de vinho branco
Sal q.b.
2 tomates frescos
1 lata de tomate pelado ou de polpa de tomate
Folhas de louro
2 Beringelas
2 kg de Dem-dem/Oleo de palma
20 Quiabos (ou a gosto)
1 Gindungo grande (ou a gosto)
2 kg de Fuba de bom-bom ou de milho


1ª fase: Temperar  a galinha




A galinha deve ser temperada com sal, alho, louro e vinagre.

Esmaga-se/Pisa-se uma cabeça de alho (descascada) no sal, para o sal ficar aromatizado.

Depois de concluído este processo, tempera-se a galinha com este preparado, “salteando-a”.

Adiciona-se ao preparado 1 folha de louro e rega-se com o vinagre, distribuindo o molho pelo frango.

Este tempero deve ficar preparado no dia anterior, para o sabor ficar mais apurado.




Nota: Se estiver a viver em Angola, pode congelar o preparado (para o caso de haver alguma falha de energia) e utilizá-lo no dia seguinte, sem ser necessário descongelar totalmente.


2ª fase: Cozer o dem-dem (se não tiver oportunidade de utilizar dem-dem fresco, pode ignorar esta etapa e substituí-la por uma lata já preparada de óleo de palma)


O dem-dem deve ser cozido numa panela com água, durante +/- 40 min. Depois de cozido, deite fora a água da cozedura e encha novamente a panela com água fria.

O dem-dem deve então ser pisado e espremido, para libertar o seu óleo para a água e criar o famoso óleo de palma caseiro.




Após este processo, reserve o óleo de palma.





3ª fase: Refogado

Pique finamente uma cebola grande e 2 dentes de alho.





Em lume médio, vá retirando com uma colher de sopa o óleo de palma que está mais à superfície da panela, pois é o mais concentrado em óleo e adicione ao preparado até quase cobrir o fundo da panela.





Pique finamente meia beringela e 1 ou 2 tomates frescos, e adicione ao refogado, para o engrossar.







 Deve juntar uma folha de louro para temperar (que deve ser posteriormente retirada).

Deixe refogar uns minutos.


4ª fase: Frango

Adicione o frango ao preparado, juntando também o molho do tempero do próprio frango.





Envolva-o no restante refogado.




Depois de envolvido o frango, junte ao preparado uma lata de tomate pelado/ou de molho de tomate.



Envolva novamente. Depois de uniformizado o preparado, deve adicionar por fases (em 2 ou 3 momentos) o molho de dem-dem/óleo de palma.





Adicione após, um gindungo grande picado.





Misture o preparado e deixe cozer em lume médio durante +/- 1 hora.


5ª Fase: Quiabos

Depois de cozinhar o frango durante +/- 1 hora, adicionam-se os quiabos (retirar a parte superior de cada quiabo - a "tampa").




6ª fase: Beringela

Depois de cozidos os quiabos durante +/- 20 min. adiciona-se a restante beringela, cortada em quartos.


Deixe cozer durante mais +/-25 mins.


7ª Fase: Retifique o tempero se necessário e o molho está pronto!

Se for necessário engrossar o molho, pode diluir um pouco de fuba em água  e adicionar ao preparado, deixando o molho engrossar por mais alguns minutos.


8ª Fase: Fuba de milho




Coloque uma panela com água ao lume até ficar apenas morna.

Peneira-se a farinha para um prato.




Coloque duas mãos de farinha na água, mexa e deixe cozer +/- 30 mins.





Após esta primeira cozedura, vá adicionando várias mãos da restante farinha, sempre mexendo até ficar consistente.

Quando a fuba estiver consistente e sem grumos, está pronta a servir!


8ª Fase: Fuba de bom-bom


Coloque uma panela com água ao lume até ferver.




 Peneira-se a farinha para um prato.



Após a água estar a ferver, adicione a farinha à água, na quantidade desejada e deixe cozinhar um pouco. Envolva bem.



Retire a panela do lume e bata vigorosamente com uma colher de pau a fuba, até fica o mais uniforme possível.

Se ficar muito rija, volte a colocar a panela no lume e adicione mais um pouco de água quente. Volte a envolver, ainda no lume.



Retire novamente a panela do lume e bata novamente com energia!





E está pronto!!!






Bom apetite!


11 de abril de 2013

Googling Angola...


Nesta minha busca “através”* da realidade angolana, não têm sido poucas as vezes em que vejo os meus esforços para compreender o país, resultarem infrutíferos. 

Efetivamente, os dados oficiais ou que poderemos considerar fidedignos e que estão disponíveis na internet acerca do país, são escassos e quando feito o seu tracking terminam muitas vezes em sites cheios de nada… indefinidamente em construção.

Esta intermitência de conteúdos ou mesmo inexistência dos mesmos resulta, provavelmente, dos consecutivos anos de guerra a que o país esteve submetido até 2002 e do subsequente crescimento frenético que o tem caracterizado nos últimos 10 anos.

Angola está em (re) construção e, aparentemente, também a sua e-história se reescreve, todos os dias.

Neste contexto, considerei pertinente criar neste blog um novo tópico/página - denominado “Googling Angola”, que tem como propósito reunir informação  tratada sobre o país, permitindo-nos assim ficar a conhecer os seus “Facts and Figures”.

Em breve, reunirei alguma informação para escrever o primeiro post deste tópico, que se  irá denominar “Angola no Mundo”.


XALIPÓ!


* “Através” é uma expressão muito angolana. Com um sentido que pode ir desde o ligeiramente até ao totalmente diferente daquele que o português de Portugal imprime nas frases. É frequentemente utilizado, por exemplo, para transmitir a ideia de que se está atrasado. Ex: “mais velho, vim através do trânsito!”.

5 de abril de 2013

WALALI!

WALALI! (em português: "Boa tarde!")

Nasci em Luanda no ano de 1985. Nesse ano, organizava-se o “Jamboree em Jamba”; pensava-se a estratégia da Operação Congresso II; dactilografavam-se as Resoluções 567, 571, 574 e 577 do Conselho de Segurança das Nações Unidas; decorria o 2º congresso ordinário do MPLA com o objetivo de analisar a situação política económica e social do país dos últimos 10 anos de independência; a Universidade de Angola passava a chamar-se Universidade Agostinho Neto, em memória do primeiro presidente de Angola e primeiro reitor da universidade; a TAAG (Linhas Aéreas de Angola) iniciava as suas operações para o Brasil; Pepetela publicava o seu romance O Cão e os Caluandas; o Primeiro de Maio ganhava o Girabola, e o som dos Ouro Negro continuava a tocar no rádio dos mais saudosistas, não obstante a morte de um dos elementos do duo, no decurso desse ano.

Alheia à diferenciação destes mundos de gente grande, em 1985, eu integrava um mundo de afetos bilingue, em que o português e o umbundo encetavam o desenho daquele que iria ser o meu edifício interior.

Na realidade, a primeira língua que aprendi a falar foi umbundo. Aquela que hoje é uma língua esquecida, e na época interpretada como uma mal formação que constituía barreira à expressão era, na realidade, o meu passaporte de acesso ao mundo dos Homens reais e por isso vos saúdo, nesta primeira mensagem, em umbundo.

A Luanda desse ano não é a mesma de hoje ou de outrora e por isso, num esforço de reconstrução de mim, da minha estória, da história do país, crio este espaço de reflexão e memória, na expectativa de que os que viveram na Angola de outros tempos possam ajudar-nos a reconhecer o caminho que foi riscado; de que os que vivem na Angola de hoje queimem na pelicula da história as idiossincrasias da sua sociedade e; de que os que aspiram a viver em Angola, a compreendam.

XALIPÓ! (em português: "Adeus!")

1974


1985


2013

Ps: Perdoem alguma imprecisão que detectem.